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Fui demitido com burnout. Quais são meus direitos?

A síndrome de burnout tem se tornado cada vez mais comum no ambiente de trabalho moderno, afetando profissionais de diversas áreas. Quando um trabalhador é demitido enquanto enfrenta essa condição, surgem questões importantes sobre seus direitos e as obrigações do empregador. Neste artigo, abordaremos de forma abrangente os direitos trabalhistas de quem é demitido com burnout, fornecendo informações essenciais para que você possa se proteger e buscar o amparo legal necessário.

O que é a síndrome de burnout?

Definição e características

A síndrome de burnout, também conhecida como síndrome do esgotamento profissional, é um distúrbio emocional caracterizado por um estado de exaustão física, emocional e mental causado por condições de trabalho desgastantes e estressantes. Esta condição foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um fenômeno ocupacional, o que reforça sua seriedade e impacto no ambiente de trabalho.

O burnout não é apenas um simples cansaço ou estresse passageiro. Trata-se de um quadro crônico que se desenvolve gradualmente, muitas vezes sem que o próprio indivíduo perceba, até atingir um ponto crítico. É importante entender que o burnout é considerado uma doença ocupacional, o que significa que está diretamente relacionada às condições e ao ambiente de trabalho.

Sintomas e diagnóstico

Os sintomas da síndrome de burnout podem variar de pessoa para pessoa, mas geralmente incluem:

  1. Exaustão física e emocional
  2. Cinismo ou despersonalização em relação ao trabalho
  3. Sensação de ineficácia e falta de realização
  4. Irritabilidade e impaciência
  5. Dificuldade de concentração
  6. Problemas de sono
  7. Sintomas físicos como dores de cabeça, problemas gastrointestinais e tensão muscular
  8. Absenteísmo e queda de produtividade

O diagnóstico do burnout é realizado por profissionais de saúde mental, como psiquiatras ou psicólogos, através de avaliações clínicas e questionários específicos. É fundamental que o trabalhador busque ajuda profissional ao perceber os primeiros sinais da síndrome, pois o diagnóstico precoce pode facilitar o tratamento e a recuperação.

Burnout como doença ocupacional

Reconhecimento pela OMS

Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu oficialmente a síndrome de burnout na Classificação Internacional de Doenças (CID-11). Esta inclusão representa um marco importante no reconhecimento do burnout como um problema de saúde ocupacional sério e prevalente.

De acordo com a definição da OMS, o burnout é caracterizado por três dimensões:

  1. Sentimentos de exaustão ou esgotamento de energia
  2. Aumento do distanciamento mental do próprio trabalho, ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao trabalho
  3. Redução da eficácia profissional

É importante notar que a OMS especifica que o burnout se refere especificamente a fenômenos no contexto ocupacional e não deve ser aplicado para descrever experiências em outras áreas da vida.

Legislação brasileira

No Brasil, a síndrome de burnout é reconhecida como doença ocupacional, o que implica em uma série de direitos e proteções para o trabalhador. De acordo com o Decreto nº 3.048/99, que aprova o Regulamento da Previdência Social, o burnout está listado no Anexo II como “Transtornos mentais e do comportamento relacionados com o trabalho” (Grupo V da CID-10, código Z73.0).

Esta classificação é crucial, pois equipara o burnout a um acidente de trabalho para fins legais e previdenciários. Isso significa que o trabalhador diagnosticado com burnout tem direito a benefícios e proteções específicas, como veremos a seguir.

Direitos do trabalhador com burnout

Afastamento do trabalho

Quando um trabalhador é diagnosticado com burnout, ele tem o direito de se afastar do trabalho para tratamento. Os primeiros 15 dias de afastamento são de responsabilidade do empregador, que deve manter o pagamento do salário normalmente durante este período.

É importante ressaltar que o afastamento deve ser justificado por um atestado médico que comprove a necessidade de ausência do trabalho para tratamento da saúde. O empregador não pode recusar um atestado médico válido, sob pena de incorrer em ilegalidade.

Auxílio-doença

Se o afastamento se estender por mais de 15 dias, o trabalhador tem direito a solicitar o auxílio-doença junto ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Este benefício previdenciário é concedido aos segurados que ficam temporariamente incapacitados para o trabalho por motivo de doença.

Para requerer o auxílio-doença, o trabalhador deve passar por uma perícia médica no INSS, que avaliará sua condição de saúde e determinará o período de afastamento necessário. É fundamental apresentar toda a documentação médica que comprove o diagnóstico de burnout e a necessidade de afastamento.

O valor do auxílio-doença corresponde a 91% do salário de benefício, que é calculado com base na média dos salários de contribuição do segurado. O benefício é pago mensalmente enquanto durar a incapacidade para o trabalho, conforme avaliação da perícia médica do INSS.

Estabilidade provisória

Um dos direitos mais importantes do trabalhador com burnout é a estabilidade provisória no emprego. De acordo com o artigo 118 da Lei nº 8.213/91, o segurado que sofreu acidente de trabalho tem garantida, pelo prazo mínimo de 12 meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na empresa, após a cessação do auxílio-doença acidentário.

Como o burnout é equiparado a acidente de trabalho, o empregado que retorna ao trabalho após o afastamento por esta síndrome tem direito à estabilidade provisória de 12 meses. Durante este período, o empregador não pode demitir o trabalhador sem justa causa.

É importante destacar que a estabilidade provisória não impede a demissão por justa causa, caso o empregado cometa alguma falta grave prevista no artigo 482 da CLT. No entanto, a empresa deve ter muito cuidado ao alegar justa causa nestes casos, pois qualquer arbitrariedade pode ser questionada na Justiça do Trabalho.

Indenização por danos morais

Em casos onde se comprove que o burnout foi causado ou agravado por condições inadequadas de trabalho, assédio moral ou outras práticas abusivas por parte do empregador, o trabalhador pode ter direito a uma indenização por danos morais.

A indenização por danos morais visa compensar o sofrimento psicológico, a dor e o abalo emocional causados ao trabalhador. O valor da indenização é determinado pelo juiz, levando em consideração a gravidade do dano, a capacidade econômica do ofensor e o caráter pedagógico da punição.

Para pleitear a indenização por danos morais, é necessário entrar com uma ação trabalhista e apresentar provas que demonstrem o nexo causal entre as condições de trabalho e o desenvolvimento do burnout. Isso pode incluir laudos médicos, testemunhas, e-mails, mensagens ou qualquer outro documento que evidencie a situação vivenciada no ambiente de trabalho.

Demissão durante o tratamento de burnout

Ilegalidade da demissão

A demissão de um trabalhador durante o tratamento de burnout é considerada ilegal e discriminatória. De acordo com a Lei nº 9.029/95, é proibida a adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa para efeito de acesso à relação de emprego, ou sua manutenção, por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação familiar, deficiência, reabilitação profissional, idade, entre outros.

Embora a lei não mencione explicitamente doenças ocupacionais, a jurisprudência tem entendido que a demissão de um trabalhador em tratamento de doença ocupacional, como o burnout, configura discriminação. Isso porque a empresa estaria dispensando o empregado justamente em razão de sua condição de saúde, o que é vedado pelo ordenamento jurídico brasileiro.

Reintegração ao trabalho

Caso o trabalhador seja demitido durante o tratamento de burnout ou no período de estabilidade provisória, ele tem direito a pleitear a reintegração ao trabalho. A reintegração significa o retorno do empregado ao cargo que ocupava anteriormente, com todos os direitos e vantagens que teria caso não tivesse sido demitido.

Para solicitar a reintegração, o trabalhador deve entrar com uma ação trabalhista, apresentando provas do diagnóstico de burnout, do tratamento em curso e da demissão irregular. O juiz do trabalho, ao analisar o caso, pode determinar a reintegração imediata do empregado, mesmo antes da sentença final do processo.

É importante ressaltar que a reintegração deve ocorrer em condições adequadas, que não exponham o trabalhador a situações que possam agravar seu quadro de saúde. O empregador deve proporcionar um ambiente de trabalho saudável e, se necessário, realizar adaptações para acomodar as necessidades do empregado em recuperação.

Indenização substitutiva

Em alguns casos, a reintegração ao trabalho pode não ser a melhor opção, seja porque o ambiente de trabalho continua hostil, seja porque o próprio trabalhador não se sente confortável em retornar à empresa. Nessas situações, é possível pleitear uma indenização substitutiva.

A indenização substitutiva consiste no pagamento dos salários e demais verbas trabalhistas que o empregado teria direito durante todo o período de estabilidade, mesmo sem retornar efetivamente ao trabalho. Além disso, o trabalhador pode ter direito a uma indenização adicional por danos morais, caso se comprove que a demissão foi discriminatória ou abusiva.

O valor da indenização substitutiva é calculado considerando:

  1. Salários do período de estabilidade
  2. Férias proporcionais + 1/3
  3. 13º salário proporcional
  4. FGTS + multa de 40%
  5. Outras verbas que o trabalhador receberia se estivesse trabalhando

É importante notar que a decisão entre reintegração e indenização substitutiva geralmente cabe ao trabalhador, que deve avaliar sua situação pessoal e profissional para fazer a escolha mais adequada.

Como agir em caso de demissão com burnout

Se você foi demitido enquanto estava em tratamento de burnout ou suspeita que desenvolveu a síndrome devido às condições de trabalho, é fundamental agir rapidamente para proteger seus direitos. Aqui estão os passos que você deve seguir:

Documentação necessária

O primeiro passo é reunir toda a documentação que comprove sua condição de saúde e o histórico de trabalho na empresa. Isso inclui:

  1. Laudos médicos e psicológicos que diagnosticam o burnout
  2. Atestados médicos
  3. Receitas de medicamentos
  4. Comprovantes de tratamentos realizados
  5. Carteira de trabalho
  6. Contracheques
  7. Termo de rescisão do contrato de trabalho
  8. Quaisquer documentos que evidenciem as condições de trabalho (e-mails, mensagens, avaliações de desempenho, etc.)

Ter essa documentação organizada será crucial para fundamentar sua defesa e comprovar seus direitos.

Notificação extrajudicial

Antes de entrar com uma ação judicial, é recomendável enviar uma notificação extrajudicial à empresa. Esta notificação deve informar sobre sua condição de saúde, o diagnóstico de burnout e solicitar a reconsideração da demissão.

A notificação extrajudicial serve como uma tentativa de resolução amigável e também como prova de que você buscou seus direitos de forma pacífica antes de recorrer à Justiça. É importante que a notificação seja redigida por um advogado especializado em direito do trabalho, para garantir que todos os aspectos legais sejam abordados corretamente.

Ação trabalhista

Se a empresa não responder à notificação extrajudicial ou se recusar a reconsiderar a demissão, o próximo passo é entrar com uma ação trabalhista. A ação deve ser ajuizada na Justiça do Trabalho, preferencialmente com o auxílio de um advogado especializado em direito do trabalho.

Na ação trabalhista, você pode pleitear:

  1. Anulação da demissão
  2. Reintegração ao trabalho ou indenização substitutiva
  3. Pagamento dos salários do período de afastamento
  4. Indenização por danos morais
  5. Outras verbas trabalhistas que possam ser devidas

É importante que a petição inicial da ação seja bem fundamentada, apresentando todas as provas disponíveis e argumentos jurídicos que sustentam seu caso. O advogado deve destacar o reconhecimento do burnout como doença ocupacional, a ilegalidade da demissão durante o tratamento e os direitos do trabalhador nessa situação.

O processo trabalhista pode levar alguns meses ou até anos para ser concluído, dependendo da complexidade do caso e da carga de trabalho do tribunal. Durante esse período, é fundamental manter-se em contato com seu advogado e fornecer qualquer nova informação ou documentação que possa ser relevante para o caso.

Prevenção do burnout no ambiente de trabalho

Responsabilidades do empregador

A prevenção do burnout não é apenas uma questão individual, mas também uma responsabilidade do empregador. De acordo com o artigo 157 da CLT, cabe às empresas:

I – cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho;
II – instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais;
III – adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão regional competente;
IV – facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente.

Além disso, a NR-17, que trata da ergonomia no trabalho, estabelece parâmetros que permitem a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.

Medidas preventivas

Algumas medidas que as empresas podem adotar para prevenir o burnout incluem:

  1. Promover um ambiente de trabalho saudável e colaborativo
  2. Estabelecer metas realistas e alcançáveis
  3. Oferecer suporte psicológico aos funcionários
  4. Implementar programas de qualidade de vida no trabalho
  5. Incentivar o equilíbrio entre vida profissional e pessoal
  6. Proporcionar oportunidades de desenvolvimento profissional
  7. Realizar avaliações periódicas de saúde ocupacional
  8. Oferecer treinamentos sobre gestão do estresse e inteligência emocional

É importante ressaltar que a prevenção do burnout beneficia tanto os trabalhadores quanto as empresas, pois reduz o absenteísmo, aumenta a produtividade e melhora o clima organizacional.

Benefícios da prevenção do burnout
Redução do absenteísmo
Aumento da produtividade
Melhoria do clima organizacional
Redução de custos com afastamentos
Aumento da satisfação dos funcionários
Melhoria da imagem da empresa

Conclusão

A demissão de um trabalhador com burnout é uma situação complexa que envolve diversos aspectos legais e de saúde ocupacional. É fundamental que os trabalhadores conheçam seus direitos e saibam como agir caso se encontrem nessa situação. Da mesma forma, é essencial que as empresas estejam cientes de suas responsabilidades na prevenção e tratamento do burnout, evitando práticas discriminatórias e promovendo um ambiente de trabalho saudável.

Se você se encontra nessa situação ou conhece alguém que esteja passando por isso, é importante buscar orientação jurídica especializada. Um advogado trabalhista poderá avaliar seu caso específico e orientá-lo sobre as melhores estratégias para proteger seus direitos e buscar a reparação adequada. Lembre-se: a saúde mental é tão importante quanto a saúde física, e você tem o direito de trabalhar em um ambiente que respeite e promova seu bem-estar integral.

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Marcel Sanches
Autor e Revisor
Advogado na Ls Advogados. Especialista em Direito Privado e Atuação nos Tribunais Superiores.
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