O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP) recentemente proferiu uma decisão importante no âmbito dos planos de saúde, obrigando a Notre Dame Intermédica Saúde S/A a fornecer cobertura para os medicamentos Bevacizumabe e Pembrolizumabe no tratamento de neoplasia de colo uterino e neoplasia maligna de corpo de útero metastático.
Sumário
ToggleEsta decisão reafirma o direito dos consumidores à cobertura de tratamentos médicos necessários, mesmo quando não listados explicitamente no rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
O Caso Notre Dame Intermédica: Negativa de Cobertura para Bevacizumabe e Pembrolizumabe
O caso em questão envolveu uma consumidora que, após ser diagnosticada com neoplasia de colo uterino e neoplasia maligna de corpo de útero metastático, recebeu a indicação médica para tratamento com os medicamentos Bevacizumabe e Pembrolizumabe.
No entanto, a Notre Dame Intermédica Saúde S/A negou a cobertura desses medicamentos, alegando que eram considerados “off-label” e não constavam no rol de procedimentos obrigatórios da ANS.
Esta negativa levou a consumidora a buscar seus direitos por via judicial, resultando em uma ação de obrigação de fazer contra a Notre Dame Intermédica. Em primeira instância, a decisão foi favorável à consumidora, obrigando o plano de saúde a cobrir o tratamento indicado.
Apelação da Notre Dame Intermédica e a Decisão do TJSP
Insatisfeita com a decisão de primeira instância, a Notre Dame Intermédica interpôs recurso de apelação junto ao TJSP. Em suas razões recursais, a operadora de plano de saúde apresentou os seguintes argumentos principais:
- Alegação de nulidade do julgado por cerceamento de defesa, argumentando que era necessário o encaminhamento dos autos ao NAT-JUS (Núcleo de Apoio Técnico do Poder Judiciário) para parecer sobre o tratamento.
- Defesa da licitude da negativa de cobertura, reiterando que os medicamentos Bevacizumabe e Pembrolizumabe eram de uso off-label e não constavam no rol de procedimentos obrigatórios da ANS.
O TJSP, em sua análise, rejeitou os argumentos da Notre Dame Intermédica e manteve a decisão de primeira instância, obrigando a operadora a fornecer cobertura para o tratamento com Bevacizumabe e Pembrolizumabe.
Fundamentos da Decisão do TJSP no Caso Notre Dame Intermédica
A decisão do TJSP baseou-se em diversos pontos cruciais que merecem destaque:
1. Aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor
O tribunal reconheceu a submissão do contrato de plano de saúde às normas do Código de Defesa do Consumidor. Isso implica que as cláusulas contratuais devem ser interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor, princípio fundamental na proteção dos direitos dos usuários de planos de saúde.
2. Ausência de Exclusão Contratual Específica
O TJSP observou que no contrato celebrado entre a consumidora e a Notre Dame Intermédica não havia qualquer cláusula específica excluindo a cobertura para a doença em questão. Este ponto é crucial, pois ressalta a importância da clareza e especificidade nas cláusulas contratuais dos planos de saúde.
3. Indicação Médica como Fator Determinante
Um aspecto fundamental na decisão foi o reconhecimento da importância da indicação médica. O tribunal enfatizou que a empresa prestadora de serviços de assistência médica não pode interferir na indicação feita pelo médico que assiste o paciente. No caso em questão, havia documentação clara do médico justificando a necessidade do tratamento com Bevacizumabe e Pembrolizumabe.
4. Risco à Saúde do Paciente em Caso de Negativa
O TJSP levou em consideração a afirmação do médico de que o atraso na liberação do tratamento poderia colocar a vida da paciente em risco devido à possibilidade de progressão da doença. Este fator pesou significativamente na decisão, ressaltando a urgência e a necessidade do tratamento indicado.
5. Interpretação da Lei 9.656/98
A decisão também se baseou na interpretação do artigo 12, inciso I, alínea c, da Lei nº 9.656/98, que estabelece a obrigação da operadora de fornecer cobertura para tratamentos antineoplásicos domiciliares de uso oral, incluindo medicamentos para o controle de efeitos adversos e adjuvantes.
6. Ônus da Prova
O tribunal destacou que caberia à Notre Dame Intermédica demonstrar a ineficácia do tratamento ou a existência de uma alternativa igualmente eficaz, o que não foi feito. Esta observação reforça a importância da fundamentação técnica nas negativas de cobertura por parte das operadoras de planos de saúde.
Bevacizumabe e Pembrolizumabe: Eficácia no Tratamento de Neoplasias
É importante entender o papel crucial dos medicamentos Bevacizumabe e Pembrolizumabe no tratamento de neoplasias, particularmente no caso de câncer de colo uterino e de corpo de útero metastático.
Bevacizumabe no Tratamento de Neoplasias
O Bevacizumabe é um anticorpo monoclonal que atua como inibidor da angiogênese, ou seja, impede a formação de novos vasos sanguíneos que alimentam o tumor. Este medicamento tem demonstrado eficácia significativa no tratamento de diversos tipos de câncer, incluindo o câncer de colo uterino avançado.
Principais características do Bevacizumabe:
- Mecanismo de ação: Inibe o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF)
- Aprovado pela Anvisa para diversos tipos de câncer
- Utilizado frequentemente em combinação com quimioterapia
Pembrolizumabe no Combate ao Câncer
O Pembrolizumabe é um imunoterápico que pertence à classe dos inibidores de checkpoint PD-1. Ele atua estimulando o sistema imunológico do próprio paciente a reconhecer e combater as células cancerígenas.
Pontos-chave sobre o Pembrolizumabe:
- Mecanismo de ação: Bloqueia a proteína PD-1, permitindo que as células T ataquem o tumor
- Aprovado pela Anvisa para diversos tipos de câncer, incluindo alguns casos de câncer de colo uterino
- Tem mostrado resultados promissores em estudos clínicos para diversos tipos de tumores
A combinação de Bevacizumabe e Pembrolizumabe, como indicado no caso em questão, representa uma abordagem moderna e potencialmente mais eficaz no tratamento de neoplasias avançadas, como a neoplasia de colo uterino e neoplasia maligna de corpo de útero metastático.
Impacto da Decisão do TJSP no Caso Notre Dame Intermédica para Consumidores
A decisão do TJSP no caso envolvendo a Notre Dame Intermédica tem implicações significativas para os consumidores de planos de saúde, especialmente aqueles que necessitam de tratamentos oncológicos avançados. Alguns dos principais impactos incluem:
- Fortalecimento dos Direitos do Consumidor: A decisão reafirma o princípio de que o direito à saúde e ao tratamento adequado deve prevalecer sobre interpretações restritivas dos contratos de planos de saúde.
- Valorização da Indicação Médica: Ao enfatizar a importância da recomendação do médico assistente, a decisão reforça o papel central do profissional de saúde na determinação do tratamento mais adequado para o paciente.
- Ampliação do Acesso a Tratamentos Avançados: A obrigatoriedade de cobertura para medicamentos como Bevacizumabe e Pembrolizumabe, mesmo quando considerados off-label, abre precedentes para o acesso a terapias inovadoras e potencialmente mais eficazes.
- Interpretação Favorável ao Consumidor: A decisão reforça a aplicação do Código de Defesa do Consumidor nos contratos de planos de saúde, garantindo uma interpretação mais benéfica aos usuários.
- Conscientização sobre Direitos: Casos como este ajudam a conscientizar os consumidores sobre seus direitos e a importância de buscar auxílio jurídico quando necessário.
A Importância da Assistência Jurídica Especializada em Casos Contra Planos de Saúde Envolvendo Bevacizumabe e Pembrolizumabe
O caso da Notre Dame Intermédica demonstra claramente a complexidade das questões envolvendo negativas de cobertura por planos de saúde. Neste contexto, a assistência jurídica especializada em negativa de tratamentos por planos de saúde torna-se fundamental para garantir os direitos dos consumidores.
Advogados especializados em direito à saúde podem:
- Avaliar a legalidade da negativa de cobertura
- Preparar argumentações jurídicas sólidas
- Reunir e apresentar evidências médicas necessárias
- Navegar pelos procedimentos judiciais complexos
- Buscar medidas liminares em casos urgentes
A expertise legal nesta área pode fazer a diferença entre receber ou não um tratamento potencialmente vital.
Marcel Sanches, advogado especialista em Direito Privado e Atuação nos Tribunais Superiores, oferece sua opinião sobre a decisão do TJSP no caso Notre Dame Intermédica: “Esta decisão representa um marco importante na defesa dos direitos dos consumidores de planos de saúde. Ao obrigar a Notre Dame Intermédica a fornecer cobertura para os medicamentos Bevacizumabe e Pembrolizumabe, o tribunal reafirma o princípio de que o direito à saúde e ao tratamento adequado deve prevalecer sobre interpretações restritivas dos contratos. É um lembrete de que as operadoras de planos de saúde têm uma responsabilidade fundamental com a vida e o bem-estar de seus beneficiários, que vai além de considerações puramente financeiras ou burocráticas.”
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