Direito Trabalhista e Previdenciário
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Como fazer o cálculo do FGTS: guia completo

O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) é um direito fundamental dos trabalhadores brasileiros, estabelecido pela Lei nº 8.036/1990. Compreender como calcular corretamente o FGTS é essencial tanto para empregados quanto para empregadores. Neste guia completo, abordaremos todos os aspectos relacionados ao cálculo do FGTS, desde os conceitos básicos até situações específicas.

O que é o FGTS e quem tem direito?

O FGTS é um depósito mensal, equivalente a 8% do salário do trabalhador, que o empregador deve recolher em uma conta vinculada ao contrato de trabalho. Conforme o artigo 15 da Lei nº 8.036/1990, todos os empregadores são obrigados a depositar o FGTS para seus funcionários.

Os trabalhadores que têm direito ao FGTS incluem:

  • Empregados regidos pela CLT
  • Trabalhadores rurais
  • Empregados domésticos
  • Atletas profissionais
  • Trabalhadores temporários
  • Avulsos
  • Safreiros (operários rurais que trabalham apenas no período de colheita)

É importante ressaltar que, para jovens aprendizes, o percentual de recolhimento é diferenciado, sendo de 2% do salário, conforme estabelecido no artigo 15, § 7º, da Lei nº 8.036/1990.

Como calcular o FGTS mensal

O cálculo do FGTS mensal é relativamente simples. A fórmula básica é:

FGTS mensal = Salário bruto x 8%

Por exemplo, se um trabalhador recebe um salário bruto de R$ 3.000,00, o cálculo seria:

R$ 3.000,00 x 8% = R$ 240,00

Portanto, o empregador deve depositar R$ 240,00 mensalmente na conta vinculada do FGTS desse funcionário.

É importante lembrar que o cálculo do FGTS deve incluir não apenas o salário base, mas também outras verbas que compõem a remuneração do trabalhador, como horas extras, adicionais noturnos, de insalubridade ou periculosidade, comissões e gratificações.

Cálculo do FGTS em situações especiais

Férias

Durante o período de férias, o empregador deve continuar recolhendo o FGTS normalmente. O cálculo é feito sobre o valor das férias, incluindo o terço constitucional. Assim, se um funcionário recebe R$ 3.000,00 de férias (já incluído o terço), o cálculo seria:

R$ 3.000,00 x 8% = R$ 240,00

13º salário

O 13º salário também é base para o cálculo do FGTS. O recolhimento deve ser feito até o dia 20 de dezembro, conforme estabelecido no artigo 1º da Lei nº 4.090/1962. O cálculo segue a mesma lógica do salário mensal.

Afastamento por doença ou acidente de trabalho

Nos casos de afastamento por doença comum, o empregador é responsável pelo recolhimento do FGTS nos primeiros 15 dias. Após esse período, não há obrigatoriedade de recolhimento.

Já em casos de acidente de trabalho, o empregador deve continuar recolhendo o FGTS durante todo o período de afastamento, conforme previsto no artigo 15, § 5º, da Lei nº 8.036/1990.

Cálculo da multa rescisória do FGTS

Quando ocorre a demissão sem justa causa, o empregador deve pagar uma multa de 40% sobre o saldo do FGTS do trabalhador. O cálculo dessa multa é feito da seguinte forma:

Multa rescisória = Saldo total do FGTS x 40%

Por exemplo, se um funcionário tem um saldo de FGTS de R$ 10.000,00, a multa rescisória seria:

R$ 10.000,00 x 40% = R$ 4.000,00

É importante notar que, além dos 40% pagos ao trabalhador, o empregador deve recolher mais 10% a título de contribuição social, totalizando 50% sobre o saldo do FGTS.

FGTS em atraso: como calcular

Quando o empregador atrasa o recolhimento do FGTS, além do valor principal, ele deve pagar multa e juros. O cálculo do FGTS em atraso pode ser complexo, pois envolve a aplicação de correção monetária, juros de mora e multa.

A multa por atraso no recolhimento do FGTS é escalonada, conforme estabelecido no artigo 22 da Lei nº 8.036/1990:

Período de atrasoMulta
Pagamento no mês de vencimento5%
A partir do mês seguinte ao vencimento10%
A partir do segundo mês seguinte ao vencimento20%

Para facilitar esse cálculo, a Caixa Econômica Federal disponibiliza um sistema chamado SEFIP (Sistema Empresa de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social), que realiza automaticamente os cálculos necessários.

Saque-aniversário do FGTS: como funciona o cálculo

O saque-aniversário é uma modalidade opcional que permite ao trabalhador retirar uma parte do saldo do FGTS anualmente, no mês do seu aniversário. O cálculo do valor a ser sacado segue uma tabela progressiva, que varia de acordo com o saldo da conta.

Limite das faixas de saldo (em R$)AlíquotaParcela adicional (em R$)
Até 500,0050%
De 500,01 até 1.000,0040%50,00
De 1.000,01 até 5.000,0030%150,00
De 5.000,01 até 10.000,0020%650,00
De 10.000,01 até 15.000,0015%1.150,00
De 15.000,01 até 20.000,0010%1.900,00
Acima de 20.000,005%2.900,00

Por exemplo, para contas com saldo de até R$ 500,00, o trabalhador pode sacar 50% do valor. Já para contas com saldo superior a R$ 20.000,00, o saque é de 5% mais uma parcela adicional de R$ 2.900,00.

É importante ressaltar que, ao optar pelo saque-aniversário, o trabalhador abre mão do saque integral do FGTS em caso de demissão sem justa causa.

Importância do cálculo correto do FGTS

O cálculo correto do FGTS é fundamental tanto para o empregador quanto para o empregado. Para o empregador, evita problemas trabalhistas e multas por recolhimento incorreto. Para o empregado, garante que seus direitos estejam sendo respeitados e que terá acesso ao valor correto quando necessário.

Em caso de dúvidas ou suspeitas de cálculo incorreto, é recomendável buscar orientação jurídica especializada. Um advogado trabalhista online pode oferecer assistência rápida e eficiente para esclarecer questões relacionadas ao FGTS e outros direitos trabalhistas.

Ferramentas para auxiliar no cálculo do FGTS

Para facilitar o cálculo do FGTS, existem diversas ferramentas online disponíveis. A Caixa Econômica Federal oferece uma calculadora de FGTS em seu site oficial. Além disso, existem aplicativos e sites especializados que podem ajudar tanto empregadores quanto empregados a realizar os cálculos de forma rápida e precisa.

No entanto, é importante lembrar que essas ferramentas devem ser usadas apenas como referência. Para fins legais e contábeis, é sempre recomendável utilizar os sistemas oficiais, como o SEFIP, e contar com o apoio de profissionais especializados.

Mudanças recentes na legislação do FGTS

Nos últimos anos, houve algumas mudanças significativas na legislação do FGTS. Uma das mais relevantes foi a introdução do saque-aniversário, mencionado anteriormente. Além disso, em 2020, devido à pandemia de COVID-19, o governo federal implementou medidas emergenciais que permitiram o saque extraordinário do FGTS.

É fundamental que tanto empregadores quanto empregados estejam sempre atualizados sobre essas mudanças, pois elas podem impactar diretamente o cálculo e o acesso aos recursos do FGTS.

Fiscalização e penalidades relacionadas ao FGTS

A fiscalização do recolhimento correto do FGTS é realizada pela Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, vinculada ao Ministério da Economia. As empresas que não recolhem o FGTS corretamente estão sujeitas a multas e outras penalidades.

Além disso, o não recolhimento do FGTS pode configurar crime contra a organização do trabalho, previsto no artigo 203 do Código Penal. As penas para esse crime variam de detenção de um a dois anos e multa, além da pena correspondente à violência.

Jurisprudência e decisões judiciais sobre o FGTS

A jurisprudência relacionada ao FGTS é vasta e abrange diversos aspectos. Uma decisão importante do Supremo Tribunal Federal (STF) foi a que declarou inconstitucional a Taxa Referencial (TR) como índice de correção monetária dos depósitos do FGTS. Em 2020, o STF decidiu que os valores nas contas do fundo devem ser corrigidos, no mínimo, pelo índice da caderneta de poupança.

“A remuneração das contas vinculadas ao FGTS tem disciplina constitucional própria, distinta da atualização monetária dos depósitos de poupança.” (STF, ADI 5090, Relator Min. Roberto Barroso, julgamento em 20/04/2020)

Esta decisão teve um impacto significativo nos cálculos do FGTS, beneficiando os trabalhadores com uma correção mais justa de seus saldos.

O FGTS e a aposentadoria

Muitos trabalhadores têm dúvidas sobre a relação entre o FGTS e a aposentadoria. É importante esclarecer que o FGTS não é um benefício previdenciário e, portanto, não está diretamente ligado à aposentadoria. No entanto, ao se aposentar, o trabalhador tem direito a sacar o saldo total de sua conta do FGTS.

Além disso, mesmo após a aposentadoria, se o trabalhador continuar exercendo atividade laboral, o empregador deve continuar recolhendo o FGTS normalmente. Isso foi confirmado pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST) em diversas decisões.

“O aposentado que continua a trabalhar tem direito ao recolhimento do FGTS, independentemente de ter sido beneficiado com o levantamento do saldo de sua conta vinculada por ocasião da aposentadoria.” (TST, Súmula nº 361)

O FGTS e o trabalho intermitente

Com a reforma trabalhista de 2017, foi introduzida a modalidade de trabalho intermitente no Brasil. Nesse tipo de contrato, o cálculo do FGTS tem algumas particularidades. O recolhimento deve ser feito sobre o valor efetivamente pago ao trabalhador no período, considerando as horas trabalhadas.

Por exemplo, se um trabalhador intermitente recebeu R$ 1.000,00 em um mês por 50 horas trabalhadas, o cálculo do FGTS seria:

R$ 1.000,00 x 8% = R$ 80,00

É importante que os empregadores estejam atentos a essas especificidades para evitar problemas futuros.

O FGTS e o empregado doméstico

A partir da Emenda Constitucional nº 72/2013, regulamentada pela Lei Complementar nº 150/2015, os empregados domésticos passaram a ter direito ao FGTS. O recolhimento é obrigatório e segue as mesmas regras dos demais trabalhadores, ou seja, 8% sobre a remuneração mensal.

No entanto, há uma particularidade: além dos 8%, o empregador doméstico deve recolher mais 3,2% a título de antecipação da multa rescisória. Esse valor fica em uma conta separada e só pode ser movimentado em situações específicas, como a demissão sem justa causa.

Dicas para empregadores: como evitar problemas com o FGTS

Para evitar problemas relacionados ao FGTS, os empregadores devem seguir algumas boas práticas:

  1. Manter um controle rigoroso dos pagamentos e recolhimentos
  2. Utilizar sistemas confiáveis para o cálculo e recolhimento do FGTS
  3. Manter-se atualizado sobre as mudanças na legislação
  4. Realizar auditorias internas periódicas
  5. Investir na capacitação da equipe responsável pelo departamento pessoal

Além disso, em caso de dúvidas, é sempre recomendável consultar um profissional especializado ou buscar informações nos canais oficiais do governo.

O futuro do FGTS: possíveis mudanças e tendências

O FGTS é um tema constantemente debatido no cenário político e econômico brasileiro. Algumas propostas de mudanças que têm sido discutidas incluem:

  1. Alteração na forma de correção dos saldos
  2. Possibilidade de saque em mais situações
  3. Mudanças nas alíquotas de contribuição
  4. Integração do FGTS com outros programas sociais

É importante que trabalhadores e empregadores estejam atentos a essas discussões, pois eventuais mudanças podem impactar significativamente o cálculo e a gestão do FGTS.

Conclusão

O cálculo correto do FGTS é um aspecto crucial das relações trabalhistas no Brasil. Compreender como realizar esse cálculo, tanto em situações regulares quanto em casos especiais, é essencial para garantir o cumprimento da legislação e a proteção dos direitos dos trabalhadores.

Embora o cálculo básico do FGTS seja relativamente simples, situações específicas podem tornar o processo mais complexo. Por isso, é sempre recomendável buscar orientação especializada quando surgirem dúvidas ou em casos de cálculos mais elaborados.

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Marcel Sanches
Autor e Revisor
Advogado na Ls Advogados. Especialista em Direito Privado e Atuação nos Tribunais Superiores.
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